quinta-feira, 15 de julho de 2010

Obituário: Günter Behnisch 1922-2010

Nesta segunda-feira, 12 de julho, morreu Günter Behnisch, talvez o mais proeminente arquiteto alemão do pós-modernismo. Hoje, por coincidência, peguei um livro para ler no metrô e, quando o abri, a página marcada era exatamente uma entrevista dele.

Olympiastadion, Munique. Imagem: Fritz Geller-Grimm

O livro se chama Entrevistas com Arquitetos, de Hanno Rauterberg, Editora Viana & Mosley, e é basicamente uma compilação de entrevistas publicadas periodicamente no jornal Die Zeit, de Hamburgo, no qual Rauterberg é crítico de arte e arquitetura. Acho que não temos este tipo de espaço em nenhum jornal brasileiro. Apesar de Sérgio Magalhães e Luiz Fernando Janot contribuirem regularmente para o jornal carioca O Globo, na seção Opinião, o foco em geral é política urbana. Não conheço se nos jornais paulistanos há algum espaço dedicado à crítica de arquitetura, apesar de ter de reconhecer o esforço da Folha de SP em publicar reportagens sobre projetos e arquitetos que estejam em foco na mídia internacional, sem necessariamente uma visão crítica.

Olympiastadion, Munique. Imagem: Fritz Geller-Grimm

Voltando a Günter Behnisch, sua arquitetura é frequentemente rotulada de 'desconstrutivista", resultado do uso extenso de estruturas metálicas e vidro aliados a formas irregulares e de difícil apreensão. Essa liberdade criativa é na verdade uma repulsa à rigidez e à arquitetura clássica dos regimes totalitários, uma tentativa de dissolver hierarquias, e se relaciona diretamente com sua experiência de jovem alemão durante a 2ª Guerra. Copiei abaixo um trecho interessante de sua entrevista no livro:

"De onde o senhor tirou esse gosto por imperfeições e coisas inacabadas?
As pessoas não são perfeitas, então por que a arquitetura deveria ser? Eu simplesmente gosto de coisas que estão inacabadas. O mesmo acontece com a literatura - se alguém conta tudo para você, a diversão acaba. Se há lacunas, a sua imaginação pode trabalhar. Isso é muito diferente do que as pessoas consideram ser a arquitetura prussiana. É por causa disso que há tanta discussão sobre o edifício da Akademie der Künste, em Berlim. A cidade queria que todos os prédios da Pariser Platz ficassem da mesma altura e, tanto quanto possível, tivessem a mesma aparência. Isso é ordem imposta de cima, enquanto que a ordem sobre a qual pensamos é aquela que vem de baixo, e que confia na tenacidade das coisas. E nas pessoas, também.

Akademie der Künste, Berlim. À direita, um pouco do DZ Bank de Gehry. Imagem: wikimedia.org

Akademie der Künste, Berlim. Imagem: Manfred Brückels

Mas, o que há de tão mau em encaixar a arquitetura no esquema urbano?
Acho que o individualismo é sempre mais importante do que essa grande ordenação.

Mas nem todo edifício pode se destacar dos outros.
Em Berlim, tratava-se de criar uma nova coesão social via os meios de planejamento urbano. Mas eu não ache que isso funcione. Você não pode impor coesão, porque coesão não é uma coisa externa. Veja só, antigamente um mestre artesão construía sua própria casa. O negócio dele funcionava embaixo, a residência era em cima, e seu orgulho estava envolvido na obra. Hoje em dia não há praticamente mais artesãos razoáveis e, quando os edifícios são levantados, é geralmente para obter um retorno financeiro. E os edifícios mostram isso, também. A arquitetura não pode estabelecer ordem quando a realidade atrapalha."

HYSOLAR Haus, Stuttgart. Imagem: greatbuildings.com

Óbvio que não concordo com tudo o que ele diz, mas para mim, ao fazer esta analogia com as casas dos artesãos, o arquiteto fala claramente de si mesmo, ressentido das limitações impostas por seus clientes que resultam em edifícios parecidos, sem alma. Quando trabalha com certa liberdade e autonomia, se sente "dono" do projeto, como um artesão ao construir sua casa, aí sim é que surgem obras excepcionais: o Olympiastadion em Munique, a HYSOLAR Haus em Stuttgart e a Akademie der Künste em Berlim.

HYSOLAR Haus, Stuttgart. Imagem: greatbuildings.com

Ou seja, a conclusão é aquela que ouvimos desde criancinhas: é muito mais fácil ser bom quando se faz o que te dá prazer!

2 comentários:

Camille B. sexta-feira, julho 16, 2010  

Sabe de uma coisa... se bobear, ele ia adorar o caos do Rio de Janeiro !!!!

Maria DuDu terça-feira, julho 20, 2010  

Para uns, caos. Para outros, "espontaneidade brasileira"!!!

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