quarta-feira, 9 de março de 2011

Jeitinho à la française : Louis Vuitton Foundation for Creation

Imagem : eikongraphia

Terça-feira, 15 de fevereiro de 2011, 22h30. Assembléia Nacional francesa. O impossível aconteceu : no mesmo dia, dois deputados de partidos opostos, Hervé Gaymard do partido de direita liberal (UMP Savoie) e Marcel Rogemont do partido de esquerda socialista (PS, Ille-et-Villaine) conseguem a proeza de colocar discretamente na pauta da casa, que discutia a liberdade na internet e coisas do gênero, duas emendas idênticas...

Se você chutou que as emendas tinham a ver com Google, Facebook e agregados, errou.
 
Mas afinal, que assunto é esse dessas emendas que é capaz de unir gregos e troianos ?! 
Não poderia ser outro que a Louis Vuitton Foundation for Creation. As tais gêmeas que aliás, foram votadas e aprovadas em menos de três minutos, reconheciam a fundação como utilidade pública. Ah, la vie en rose !

Essa manobra política, curiosa por sinal, passa por cima do Tribunal Administrativo francês (TAF), que no dia 20 de janeiro de 2011, acabara de anular a autorização de construção do projeto. Pequeno problema : A construção já havia começado em 2008.

Agora que você já sabe à quantas anda a história, façamos uma breve viagem no túnel do tempo.


Recapitulando
Em outubro de 2006, nascia a Louis Vuitton Foundation for Creation (LVFFC), idealizada pelo PDG da LVMH, Bernard Arnault. Este último é ninguém menos que a personalidade mais rica da França, com uma fortuna estimada em mais de 22 bilhões de euros.

Croquis de Frank O. Gehry

Frank O. Gehry e Bernard Arnault. Imagem : Didier Ghislain
 A LVFFC era inicialmente prevista para ser entregue no final de 2009 / começo de 2010. Como estamos no começo de 2011 e até agora não vimos nem a sombra da tal nuvem, podemos chegar à conclusão que, mesmo com um mecenato desses, o empreendimento vem atravessando fortes emoções.


O X da questão é que o edifício está localizado no Jardin d'Acclimatation, Bois de Boulogne, e era um local insconstrutível. Era, porque para se tornar construtível, bastou modificar o PLU (Plan local d'urbanisme). E hop ! Dito e feito. Em 2006, o PLU era modificado para permitir a construção na parcela visada pelo projeto.
Implantação. A Fundação fica bem no limite entre o Jardin d'Acclimatation e o Bois de Boulogne.
Fonte : http://acd.campus.ecp.fr/index.php


Mas... como todo bom projeto francês, a LVFFC não poderia deixar de suscitar a indignação de uma parte dos parisienses. Assim,  organizou-se uma associação de proteção ao Bois de Boulogne afim de impedir a construção. Em junho de 2010, a associação conseguiu que as modificações do PLU fossem anuladas. Em seguida, a autorização de construção do projeto, que não estava mais em adequação com o PLU, teve de ser anulada pelo TAF. As obras, que na ocasião já se encontravam pela metade, tiveram der ser automaticamente paralisadas, deixando cerca de 400 operários técnicamente desempregados.


Basicamente é isso. Agora é só esperar as cenas do próximo capítulo, mas acho que essa história já tem um final [feliz pra quem?] definido.


The Project


Projetada por Frank O. Gehry e estimada em cerca de 100 milhões de euros, a fundação é inteiramente custeada pela Louis Vuitton Moët Hennessy (LVMH).

A Fundação será, do verbo futuro do indicativo [alguém duvida?], dedicada às artes contemporâneas. Além de galerias de exposição, ela contará ainda com auditório e restaurante.


O partido é em puro, tradicional e previsível estilo Gehry, mas inova na escolha do material. Desta vez, o vidro substitui o titânio : "uma nuvem em meio às árvores, um sonho, blablabla...", diz o arquiteto. Alan Riding, jornalista do New York Times, comparou o projeto à um inseto se rastejando em meio às arvores. Eu achei essa comparação sublime!, muito mais adequada que a própria justificativa do Gehry. Parece mesmo um gafanhoto albino ! 



Mas enfim, com tantas possibilidades de inspiração, tantas referências... o que eu teria gostado mesmo, teria sido a reinterpretação das belíssimas estufas parisienses... [Se bem que eu acho que no final das contas, a referência não deixa de ser pertinente.]

Jardin des Plantes
Serres d'Auteil


Os fins justificam os meios ?
E aí, vale a pena passar por cima da lei, mesmo que seja num projeto de utilidade pública ?


Outras fontes :
Le Monde
LVMH - The Magazine 
Site oficial da fundação ( Não tem nada de interessante, só um vídeo da maquete e uma musiquinha bacaninha. )

4 comentários:

Guilherme Figueiredo quarta-feira, março 09, 2011  

O que será mais importante para a Humanidade, os espaços e a paisagem históricos do Bois de Boulogne ou isso tudo mais o edifício do Frank Ghery?
Lembram das discussões na época do projeto do Beaubourg? As mesmas da nova Fundação Louis Vuitton.
Podemos avaliar Patrimônio excluindo sua dimensão antropológica?

iara bretas quinta-feira, março 10, 2011  

a história se repete ... as leis atrapalham interesses ? mudem-se as leis, oras !!!!

Maria DuDu quinta-feira, março 10, 2011  

uhm... nao tenho uma opiniao definitiva sobre o assunto, mas me parece que o projeto do Gehry nao impede a percepcao do espaco historico...
quanto à história de modificar ou nao as leis, é realmente revoltante quando isto é feito somente para beneficiar alguns, mas ao mesmo tempo o mundo evolui e às vezes é preciso atualizar o que foi decidido há tempos (imagina se as mulheres ainda nao pudessem votar!).
enfim, nao sei...

Camille B. domingo, março 13, 2011  

É um debate interessante. Ó céus, ó vida, ó mundo cruel !

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